O ministro Gilmar Mendes se reunirá no próximo dia 20, no
Supremo Tribunal Federal, com procuradores estaduais e representantes da
Advocacia-Geral da União (AGU) para dar início a um projeto piloto de
conciliação em processos que envolvam conflitos federativos. A proposta é
estabelecer canais permanentes de comunicação entre as partes litigantes,
visando à solução dessas controvérsias pela via conciliatória.
A ideia surgiu a partir da constatação de que tramitam hoje,
no STF, mais de cinco mil processos que tratam de conflitos entre entes da
Federação – e envolvem desde temas complexos, como propriedades em áreas de
fronteira, até causas mais simples, como execuções de débitos de pequeno valor.
“Grande parte desse contencioso poderia ser reduzida ou evitada se contássemos,
no âmbito da própria Administração Pública, com ambiente institucional em que
se pudesse, por meio do diálogo, estabelecer uma cultura de consenso na solução
desses conflitos, de forma muito mais célere, eficaz e econômica do que pela
via judicial”, afirmou o ministro Gilmar Mendes no convite para o primeiro
encontro.
Para a primeira reunião, foram convidados os
procuradores-gerais dos estados das regiões Norte e Centro-Oeste, o
consultor-geral da União, a secretária-geral de Contencioso da AGU, o
procurador-geral federal, o diretor da Câmara de Conciliação e Arbitragem da
AGU e o presidente da Associação Nacional dos Procuradores de Estado (Anape).
Além da carta convite assinada pelo ministro Gilmar Mendes,
o juiz Jurandi Borges Pinheiro, que atua como auxiliar no gabinete, fez contato
direto com os convidados. “A informalidade é um dos componentes que favorecem a
conciliação”, explica o magistrado, que tem experiência em mutirões de
conciliação na Justiça Federal no Rio Grande do Sul. “A receptividade foi ótima. Hoje, há um
reconhecimento da importância das formas alternativas de solução de conflitos,
que muitas vezes surgem apenas por problemas de comunicação: como não sabem com
quem conversar, as partes acionam a Justiça”.
O projeto pretende examinar, inicialmente, as ações cíveis
originárias em trâmite no gabinete do ministro Gilmar Mendes que envolvam os
estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins (Região
Norte) e Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás (Centro-Oeste). A ideia,
porém, é envolver todos os Estados da Federação.
Experiências
bem-sucedidas
O ministro Gilmar Mendes observa que existem iniciativas de
sucesso de conciliação, como a Câmara de Conciliação e Arbitragem da AGU, que
atua na solução de controvérsias entre órgãos da Administração Federal. “Existe
ainda, contudo, bastante espaço para uma atuação mais criativa nesse campo”,
defende o ministro. “Poderíamos pensar, aqui, em práticas conciliatórias também
em relação a conflitos entre os diversos entes da federação”.
O objetivo da convocação da primeira reunião é, além da
remoção de obstáculos e a abertura de canais de diálogo, dar início a um
levantamento das matérias e processos passíveis de solução conciliada. O juiz
Jurandi Pinheiro cita, como exemplo, as ações cíveis originárias (ACOs)
ajuizadas por estados contra sua inclusão, pela União, no Cadastro Informativo
dos Débitos Não Quitados do Setor Público Federal (Cadin) – um banco de dados
de pessoas físicas e jurídicas em débito para com órgãos e entidades federais.
Só no gabinete do ministro Gilmar Mendes, o juiz auxiliar identificou 30
processos sobre inscrição no Cadin. No STF, são 273, a maioria com decisão em
caráter liminar.
Após o levantamento dos processos, o gabinete espera definir
métodos de trabalho e estabelecer algumas metas. No futuro, pensa-se em
desenvolver mecanismos que, além de solucionar as demandas existentes, possam
também prevenir futuros litígios, evitando que sejam trazidos ao STF.
A reunião ocorrerá no dia 20 de setembro às 14h30, no STF.
CF/EH
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