Da década de 60 até o início
deste século, houve uma mudança significativa no perfil das mães brasileiras. A
mulher está deixando a maternidade para mais tarde e optando por ter uma
família bem menor do que tiveram suas mães e avós. Dados do Censo 2010 do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a taxa de fecundidade
no Brasil cai a cada ano: na década de 60 era superior a seis filhos por mulher
e em 2010 chegou a 1,9 filho por mulher.Vários fatores explicam essa mudança no
perfil das mães no Brasil, aponta a demógrafa e professora da Universidade de
Brasília (UnB) Ana Nogales. “Os principais são o aumento da escolarização das
mulheres, a urbanização e a participação feminina mais forte no mercado de
trabalho”, indica a pesquisadora. A demógrafa acredita que, além dos fatores
ligados à evolução do papel da mulher na sociedade, há uma influência cultural
que fez mudar o padrão reprodutivo. “Na década de 80 e 90, falou-se muito em um
padrão de família ideal. A mídia e as telenovelas brasileiras sempre
apresentavam famílias menores e como esse modelo trazia vantagens para os
filhos”, diz.Atualmente, a taxa de fecundidade brasileira se assemelha à de
países europeus como a Dinamarca, Suíça e Noruega e é inferior à dos Estados
Unidos. “A redução no Brasil foi muito acelerada e sem uma política
governamental para controle da natalidade, como ocorreu no México ou na China.
Os países desenvolvidos não tiveram esse processo tão rápido como vemos aqui,
em que a mudança ocorre de uma geração para outra”, aponta Ana.O modelo de
família com poucos filhos, entretanto, ainda não é padrão em todas as regiões
do país. Enquanto a média nacional em 2010 foi 1,9 filho por mulher, no Norte
ficou em 2,47 – superior à taxa de fecundidade que o país registrou dez anos
antes. O menor índice foi registrado no Sudeste: 1,7 filho por mulher, inferior
à média de países como a Bélgica, o Reino Unido e a Finlândia. Ainda assim, foi
no Norte e no Nordeste que se contatou as maiores reduções na taxa de
fecundidade entre 2000 e 2010 (21,8% e 23,4%, respectivamente).O Censo 2010
também destaca uma mudança, ainda que menos acelerada, no chamado padrão etário
da fecundidade. Até o ano 2000, a tendência era um “rejuvenescimento” no perfil
das mães, com maior concentração de gestações entre as jovens de 15 a 24 anos.
Mas, na última década, segundo o IBGE, observou-se uma reversão desse
movimento. Em 2000, os grupos das mulheres mais jovens, de 15 a 19 anos e de 20
a 24 anos, concentravam 18,8% e 29,3% da fecundidade total, respectivamente.
Esses patamares passaram para 17% e 27% em 2010. Ao mesmo tempo, no grupo de
mulheres com mais de 30 anos, a participação na fecundidade total da população
subiu de 15,85% para 18% entre 2000 e 2010.“Na última década temos visto que a
mulher está prorrogando o momento de iniciar a vida reprodutiva. Além da
entrada no mercado de trabalho e da maior escolarização, nós tivemos mudanças
nas relações. As mulheres estão mais independentes e quando você tem filhos
isso traz mais responsabilidades com relação ao seu lar, a sua família”,
explica Ana Nogales.
Amanda Cieglinski
Agência Brasil
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