terça-feira, 27 de setembro de 2011

A fábula de Esopo e a CPI da ExpoDiamantino

O imortal Esopo, na riqueza  de sua fábula, conta-nos que um burro se vestiu com a pele de um leão e a partir daí nos mostra uma lição ainda não aprendida no avançar dos tempos. Narrou ele que, certo dia, não se sabe quando, “um burro encontrou uma pele de leão que um caçador tinha deixado largada na floresta. Na mesma hora, o burro vestiu a pele e inventou a brincadeira de se esconder numa moita e pular fora sempre que passasse algum animal. Todos fugiam correndo assim que o burro aparecia. O burro estava gostando tanto de ver a bicharada fugir dele correndo que começou a se sentir o rei leão em pessoa e não conseguiu segurar um belo zurro de satisfação. Ouvindo aquilo, uma raposa que ia fugindo com os outros parou, virou-se e se aproximou do burro rindo: Se você tivesse ficado quieto, talvez eu também tivesse levado um susto. Mas aquele zurro bobo estragou sua brincadeira!”. Como moral da história, Esopo concluiu que “um tolo pode enganar os outros com o traje e a aparência, mas suas palavras logo irão mostrar quem ele é de fato”.

Esopo permanece especialmente atual, em um mundo que tem na beleza externa o seu maior sustentáculo, que atribui mais valor aos trajes e às aparências do que à beleza interior. Permanece mais atual ainda quando essa beleza é ressaltada por uma especialidade  em esconder a verdadeira faceta ou intenção do agente. No hoje, além da proteção do embrulho impenetrável do traje bem arrumado, o embusteiro treina o zurro para que não pareça bobo. E ainda continuando no mundo animal, nos tempos ditos modernos não faltam escolas especializadas em treinar lobos a vestirem peles de carneiros, assim como a berrar como se fossem carneirinhos desde o nascimento.

No Brasil, país conhecido por se gabar dos jeitinhos, os lobos e os burros também têm férteis campos para fazerem desfilar suas artimanhas. O traje de cordeiro, apropriado para os momentos em que se pretende assumir uma imagem humilde, mesmo sendo o político conhecido por sua arrogância e voracidade no devorar os parcos recursos públicos. O de leão, quando se quer mostrar valentia.

 Talvez esteja nesse desfile de roupas trocadas a razão do descrédito dos políticos. Parece que o eleitor, convertido na pele da raposa ediponiana, está a enxergar o burro que se esconde na pele do leão, principalmente quando não consegue ele segurar o alegre zurro diante do arquivamento de um pedido de abertura de uma CPI, na Câmara de Diamantino, para investigar aplicação de recursos públicos, em atividade privada. Parece, também, que começa descobrir o rabo do lobo sob a capa da ovelha moralista, especialmente diante do fato de que apenas se pretende discursar e sem ter nada a apurar.

Realmente, é muito burro vestido em pele de leão e lobo travestido em cordeiro espalhados por aqui e pelai.  É muita gente e por isso nos faz lembrar o Legião Urbana ou Capital Inicial: ‘que país é esse?
Ou a prevalecer a poesia otimista do hino: ‘Diamantino vai ter alma novamente, Diamantino vai ter novo coração’.

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